Aspectos iniciais sobre políticas editoriais de periódicos científicos

 

 

 

Sigmar de Mello Rode

orcid logo http://orcid.org/0000-0002-4261-4217

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Jose dos Campos, SP, Brasil,

sigmar.rode@unesp.br

 

Denise Peres Sales

SciELO – Scientific Electronic Library Online, São Paulo, SP, Brasil

orcid logo http://orcid.org/0000-0003-3248-6634

denise.peres@scielo.org

 

Renata Postalli

SciELO – Scientific Electronic Library Online, São Paulo, SP, Brasil,

orcid logo http://orcid.org/0000-0003-4787-8446.

renata.almeida@scielo.org

 

1. Introdução

Este documento tem como objetivo orientar profissionais envolvidos na jornada de processos editoriais, proporcionando reflexões sobre editoria científica, auxiliando na construção das políticas editoriais e fortalecendo o posicionamento da LILACS como base de dados, com metodologias próprias, da área da saúde e afins.

A política editorial compreende o conjunto dos posicionamentos e compromissos do periódico com o avanço da pesquisa em sua área temática e com as respectivas comunidades de pesquisadores e tem no papel do Editor Científico, o grande responsável em construir, administrar, aplicar e atualizar a política, sempre com o apoio do Comitê Editorial. 

Um periódico precisa ter credibilidade, visibilidade e relevância no meio científico, e é fundamental que tenha transparência em todo o processo da disseminação do conhecimento e esteja presente em bases de dados confiáveis, não seja endógeno e tenha uma política editorial que alinhe os objetivos, prioridades do periódico em prol da sustentabilidade operacional.

 Atualmente, a política editorial deve ser pautada dentro dos princípios da Ciência Aberta, baseada fundamentalmente na transparência e na integridade de todo o processo que envolve o periódico, partindo do princípio que o conhecimento, além de ser um bem da sociedade, deve ser por ela compreendido.

 

2. Objetivos

 

2.1. Objetivo Geral

Promover diretrizes de apoio e de boas práticas para periódicos indexados na LILACS.

2.2 Objetivos específicos

  • Orientar profissionais envolvidos na jornada de processos editoriais; 
  • Propiciar reflexões sobre editoria científica; 
  • Fortalecer o posicionamento da LILACS como base de dados, com metodologias próprias, da área da saúde e afins; 
  • Fomentar diretrizes para que os periódicos possam realizar alterações e melhorias em seus processos. 

3. Política Editorial

A política editorial nada mais é do que a estrutura interna e externa de um periódico e deve compreender aspectos como: missão, composição do comitê editorial, detalhamento das políticas, informações sobre publisher, descrição sobre os mecanismos utilizados para o processo de avaliação pelos pares e instruções para os autores. 

Deve estar sempre atualizada e alinhada com as práticas de comunicação da ciência aberta. Ao formular a política editorial, o comitê deve pensar, conceber e definir a personalidade do periódico, filosofia, ambição e sonhos.

As políticas editoriais devem ser construídas com informações gerais sobre o periódico tais como: periodicidade – em especial o fluxo contínuo, formato de publicação, idiomas, normalização bibliográfica, avaliação pelos pares, plano de marketing, indexações, etc. As instruções aos autores devem estar de acordo com os Critérios de Seleção e Permanência de Periódicos da LILACS

3.1 Missão

Missão é o propósito da empresa existir, é sua razão de ser. Uma boa definição de missão deve esclarecer o benefício gerado pelo periódico para os seus leitores. Deve ser inspiradora e desafiadora para que haja o engajamento de seus colaboradores e parceiros, comprometidos em levar um benefício cada vez melhor para um maior público-alvo. 

A declaração da missão deve ser curta para que seja lembrada, vivenciada e transmitida por todos os envolvidos com a revista. Deve-se levar em consideração para a missão os principais objetivos de um periódico científico focando em: credibilidade, transparência, disseminação de conhecimento científico inédito nos diversos meios de comunicação, visibilidade aos avanços da ciência e da pesquisa, resguardar a memória, ser fonte educacional de consulta e não ter endogenia.

Exemplo da construção de uma missão: “A <denominação do periódico> é uma publicação <periodicidade> da <nome da instituição que respalda a revista> e tem como missão disseminar conhecimentos científicos inéditos baseados em <definir pesquisa, revisão, casos clínicos, etc.> na área <definir área, áreas e subáreas do conhecimento>”.

3.2 Comitê Editorial

O Comitê Editorial deve ser formado por membros pesquisadores que representam adequadamente, amplamente e democraticamente os interesses das áreas de conhecimento do periódico. Sua composição deve contar com pesquisadores seniores e mais jovens respeitando a diversidade, a origem dos membros e a pluralidade de visões evitando vieses.

A nomenclatura utilizada para compor o corpo editorial deve considerar: editores chefes, editores associados ou de seção e equipe editorial.

Este comitê, deve elaborar e colocar em prática a política editorial de acordo com as boas práticas da comunicação científica. A profissionalização e o treinamento de editores mais jovens e pareceristas ad hoc devem ser considerados junto ao crescimento do periódico.

É desejável que os editores possuam um nível de conhecimento amplo e tenham familiaridade com os sistemas administrativos do periódico, métricas e capacidade para traçar um plano para discutir a sustentabilidade financeira, a fim de mantê-lo ativo e com qualidade no mercado científico.

Os editores devem ter um período definido à frente do periódico (mandato), que pode permitir a recondução. As regras devem constar do regulamento do periódico. O mandato do editor garante a preservação do periódico.

3.3 Instruções aos autores

As instruções devem apresentar os critérios mínimos para a submissão de artigos aos periódicos. Devem expressar a prática e a gestão editorial do periódico e devem considerar aspectos como: escopo, estrutura de documento, normas, procedimento de avaliação, taxas de publicação, direitos e responsabilidades do autor, diretrizes sobre boas práticas e negligência e ética na publicação científica etc.

3.3.1 Negligência e Ética na Publicação Científica

Neste aspecto os periódicos devem basear-se em documentos reconhecidos nacional e internacionalmente para embasar suas decisões, tais como, Guia de boas práticas para o fortalecimento da ética na publicação científica, Diretrizes do CSE Para Promover Integridade em Publicações de Periódicos Científicos, International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), Committee on Publication Ethics (COPE), FAPESP: Código de boas práticas Científicas, Open Access Scholarly Publishers Association (OASPA), World Association of Medical Editors (WAME), e a Declaração de Singapura e de Hong Kong sobre Integridade em Pesquisa.

Recomenda-se também que seja submetido como arquivo suplementar ao manuscrito o Formulário sobre Conformidade com a Ciência Aberta

O periódico deve atender, através de metadados, aos princípios FAIR, um acrônimo para Findable (encontrável ou achável), Accessible (acessível), Interoperable (interoperáveis) and Reusable (reutilizáveis), e que são a base para a Ciência Aberta.

Além disso, os periódicos devem estar indexados junto ao Directory of Open Access Journals (DOAJ) que é o índice de periódicos de acesso aberto de qualidade reconhecido globalmente.

3.3.2 Licença – Política de Acesso Aberto

Com relação aos tipos de atribuição, os periódicos devem considerar as licenças Creative Commons (CC) em especial a CC-BY. O Creative Commons é uma organização sem fins de lucros que contribui para o compartilhamento e uso de produtos, serviços e processos relacionados com criatividade e conhecimento por meio de licenças reconhecidas globalmente.

 

3.3.3 Dados Abertos

O periódico deve atender, através de metadados, aos princípios FAIR. Criado pela GO FAIR Initiative, são um conjunto preciso e mensurável de qualidades que uma boa publicação de dados deve apresentar; qualidades que garantem que os dados sejam “Encontráveis”, Acessíveis, Interoperáveis e Reutilizáveis (do inglês FAIR – Findable, Accessible, Interoperable, and Reusable) e que são a base para a Ciência Aberta, cuja preocupação principal é tornar os dados da pesquisa transparente.

Também deve atender às diretrizes TOP, que são as Diretrizes para Promoção da Transparência e Abertura nas Políticas e Práticas de Periódicos, criada pela Center for Open Science (COS), que tem como objetivo promover a reprodutibilidade das pesquisas e a transparência nas práticas científicas e na ciência publicada pelos periódicos.

A ideia de ciência aberta é que o conhecimento científico é um patrimônio da humanidade e que deve estar disponível livremente para que as pessoas possam usá-lo, reusá-lo e distribuí-lo sem constrangimentos tecnológicos, econômicos, sociais ou legais.

O acesso aos dados de uma pesquisa deve estar disponíveis e preservados em repositórios, de forma aberta ou fechada, para atender possíveis embargos. É indicado a busca de repositórios adequados no FAIRsharing e no Re3Data.

3.3.4 DOI

Tanto para os artigos quanto para seus ativos digitais deve-se considerar a atribuição de número Digital Object Identifier (DOI) registrado no Brasil pela CrossRef. O DOI é uma cadeia alfanumérica que se utiliza de uma URL que nunca muda e sempre dará acesso ao texto completo, ainda que a URL do arquivo original seja alterada.

3.3.5 ORCID e CRediT

Para registro de autoria e distinção de pesquisadores homônimos deve-se utilizar o Open Researcher and Contributor IDentifier (ORCID iD) que representa um identificador global de pesquisadores que também congrega as variações do nome do pesquisador e é compatível com a norma ISO 27729 – International Standard Name Identifier (ISNI). O uso de  taxonomia CRediT também deve ser utilizada para prover transparência em relação às contribuições dos autores em trabalhos científicos, possibilitando melhorias nos sistemas de atribuição, crédito e prestação de contas. Ainda no âmbito da autoria é importante que exista de forma clara a declaração de conflito de interesses.

3.3.6 Submissão Online

Todos os periódicos devem utilizar um sistema de submissão online fornecendo aos seus pesquisadores praticidade e rapidez na submissão de manuscritos.

3.4 Publisher

O proprietário ou publisher tem um papel importante na gestão administrativa do periódico e confere responsabilidades significativas, devendo indicar e demitir editores, sempre provendo bases bem fundamentadas para sua tomada de decisão, fundos e infraestrutura para manter o periódico; preservar o conteúdo e avaliá-lo e acompanhar o desenvolvimento do periódico. No entanto, a relação entre periódico e proprietário deve ser clara e estar explicitada para ambas as partes. O proprietário não deve interferir no desenvolvimento científico e operacional do periódico.

3.5 Regulamento

O periódico deve ter um regulamento (ou regimento ou estatuto) que contemple as atividades como informações sobre o periódico e sua sede; objetivos gerais e específicos; administração; comitê editorial, composição, atribuições e mandatos; entre outras informações.

3.6 Processo de Avaliação 

O processo de avaliação dos manuscritos pode ser considerado como um ponto central de um periódico. A função principal deste processo de avaliação é validar a pesquisa de acordo com o método científico adotado pela revista. 

Os periódicos podem utilizar métodos diversos de avaliação de manuscritos (aberto, fechado, duplo cego etc.), e o processo deve ser transparente, documentado e os autores devem ter total ciência sobre qual estágio encontra-se o artigo dentro do ciclo de avaliação dos manuscritos.

É importante que os editores se atentem aos prazos mínimos do tempo entre o recebimento do manuscrito, a avaliação até sua publicação. 

Visando o fortalecimento da ciência aberta, é recomendado que os periódicos aceitem artigos publicados em servidores de Preprint.

Além disso, os periódicos devem ter monitoramento das métricas de suas publicações, em especial métricas de citações recebidas, sempre atentos ao índice de autocitação, utilizando-se também de ferramentas anti-plágio. Esta métrica dentre várias outras é importante para a avaliação da visibilidade e relevância na área científica de atuação.

3.7 Divulgação

A divulgação do periódico deve ser constante e é altamente recomendado que os periódicos tenham mídias sociais acadêmicas e as convencionais (facebook, twitter, site, blog etc).

 

Referências Citadas e Consultadas

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