Nota técnica 04/2021
Versão PDF
Revisão sistemática e metanálise: orientações para indexação de acordo com a Metodologia LILACS
Objetivo: Orientar a análise e leitura técnica dos documentos para identificar revisão sistemática e metanálise, seja como tipo de publicação ou descritor de assunto. | |
Público-alvo: Profissionais da informação que atuam na indexação de documentos usando a Metodologia LILACS ou na elaboração de estratégias de busca na LILACS e nas Bibliotecas Virtuais em Saúde (BVS). | |
Conteúdo: Metodológico | |
Data de criação: julho 2021 | Data de atualização: 1ª revisão: junho 2022 |
Introdução
A medicina baseada em evidências, atualmente mais conhecida como Saúde Baseada em Evidências, se caracteriza pela busca e uso criterioso, explícito e consciencioso das melhores evidências disponíveis para a tomada de decisão em saúde.1
Diferentes desenhos de estudo proporcionam diferentes níveis de evidência científica para um determinado tema. Esses níveis geralmente são representados e classificados na forma de uma pirâmide, a chamada pirâmide de evidências.2
Figura 1 – Pirâmide de evidência. Adaptado de: Murad MH, Asi N, Alsawas M,
Alahdab F. New evidence pyramid. Evid Based Med. 2016;21(4):125-7.
Observando a estrutura da pirâmide temos as revisões sistemáticas e metanálises, que são os estudos com as melhores evidências em saúde (Figura 1). Entretanto, essa ideia hierarquizada tão bem delimitada por essas linhas foi alterada. Nem todos os trabalhos possuem a mesma qualidade para serem classificados em um mesmo nível com um recorte contínuo e tão bem delimitado. Um estudo de coorte, por exemplo, se bem delineado, pode oferecer evidência igual ou superior a um ensaio clínico randomizado. Outra modificação foi entender a revisão sistemática/metanálise como poderosas ferramentas de análise das evidências dos estudos publicados, resultando então em uma nova maneira de representação da pirâmide (Figura 2).
Figura 2 – Nova pirâmide de evidência. Adaptado de: Murad MH, Asi N, Alsawas
M, Alahdab F. New evidence pyramid. Evid Based Med. 2016;21(4):125-7.
As revisões sistemáticas têm seus resultados baseados na coletânea de uma série de outros estudos e devem responder a uma questão bem definida, usando métodos específicos para identificar, selecionar, avaliar e sumarizar esses estudos.
A pergunta da revisão sistemática
A pergunta é elaborada contendo os elementos fundamentais representados pelo acrônimo PICO – (P) população ou público alvo, (I) intervenção, (C) comparação ou controle e (O) desfecho (outcome em inglês). A estratégia PICO tem algumas variações conforme situações relacionadas com: estudos qualitativos (PICOS), tempo do estudo (PICOT), estudos observacionais (PECO) e acurácia diagnóstica (PIRO).3
Uma revisão sistemática pode ou não conter uma análise estatística (metanálise), e isso dependerá da homogeneidade dos estudos. Será possível se os dados de pelo menos dois estudos selecionados, com estrutura metodológica semelhante, puderem ser combinados ou analisados conjuntamente. Quando há metanálise, o estudo se caracteriza por uma revisão sistemática com metanálise. Sem metanálise o estudo se trata somente de uma revisão sistemática.4
Existe metanálise sem revisão sistemática? Essa é uma pergunta interessante. Eventualmente, os autores podem não utilizar um processo sistemático de busca, seleção e avaliação dos estudos em um determinado tema, e ainda assim podem encontrar estudos metodologicamente equivalentes que possibilitem combinar os resultados e analisá-los estatisticamente por meio da metanálise. Tecnicamente teríamos uma metanálise que não seria uma revisão sistemática, no entanto, esse tipo de estudo pode levar a resultados distorcidos e equivocados.5
Usualmente as metanálises são representadas e identificadas por um gráfico em floresta (forest plot). Esse gráfico é construído em colunas: a da esquerda lista os estudos analisados e a da direita apresenta a medida do resultado da intervenção (Figura 3).
Figura 3 – Gráfico em floresta. Fonte: https://training.cochrane.org/handbook/current/chapter-10
Muitas revistas exigem que os estudos de revisão sistemática, para serem submetidos ou publicados, contenham seu devido registro na base de dados PROSPERO (https://www.crd.york.ac.uk/prospero/). Esta base é uma plataforma internacional de registros prospectivos de revisões sistemáticas, e seu objetivo é fornecer uma lista completa dos estudos em andamento, evitando duplicidade e desperdício em pesquisa.
Revisões sistemáticas e metanálises requerem planejamento e uso de protocolos que proporcionam ao pesquisador cumprir todas as etapas que garantam a qualidade e confiabilidade do estudo. Entre esses protocolos podemos elencar o manual da Colaboração Cochrane (https://training.cochrane.org/handbook/), JBI Manual for evidence synthesis https://synthesismanual.jbi.global), os checklists PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis- http://www.prisma-statement.org/) e QUOROM statement (https://doi.org/10.1016/S0140-6736(99)04149-5).
As revisões sistemáticas podem ser qualificadas de acordo com o sistema GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation)6 que consiste em uma escala de níveis de evidência baseada na força das recomendações presentes no estudo. (GRADE handbook (gradepro.org).
A ampliação do conceito da medicina baseada em evidências fez com que surgissem variados tipos de revisões com objetivos distintos. Em 2009, Grant e Booth,7 apresentaram uma classificação com 14 tipos de revisões. Recomenda-se consultar a nota técnica sobre Revisão. O DeCS/MeSH contém descritores para: Revisão Sistemática [Tipo de Publicação], Revisão de Integridade Científica [Tipo de Publicação] e Revisão [Tipo de Publicação].
Características fundamentais da revisão sistemática com metanálise
Sala DCP, Okuno, MFP, Taminato, M, Castro CP, Louvison MCP, Tanaka OY. Breast cancer screening in primary health care in Brazil: a systematic review. Rev Bras Enferm. 2021;74(3):e20200995. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0995
Niitsuma EN, Bueno IC, Arantes EO, Carvalho AP, Xavier GF Junior, Fernandes GD, et al. Factors
associated with the development of leprosy in contacts: a systematic review and meta-analysis. Rev Bras
Epidemiol. 2021;24:e210039. doi: https://doi.org/10.1590/1980-549720210039.
Os descritores
No DeCS/MeSH há descritores específicos para revisão sistemática e metanálise. São usados separadamente e se encontram na mesma categoria e nível hierárquico.
A nota de escopo do descritor e o manual de indexação8 definem REVISÃO SISTEMÁTICA [Tipo de publicação] como uma revisão de literatura original em saúde e política de saúde que objetiva identificar, avaliar e sintetizar todas as evidências empíricas que vão de encontro aos critérios de elegibilidade para responder uma determinada pergunta de pesquisa. Sua orientação utiliza métodos explícitos que visam minimizar o viés a fim de produzir resultados mais confiáveis sobre os efeitos de intervenções de prevenção, tratamento e reabilitação que podem ser usados para informar a tomada de decisão.
A nota de escopo do descritor e o manual de indexação definem METANÁLISE [Tipo de publicação] como trabalhos que consistem em estudos que utilizam um método quantitativo de combinação dos resultados de estudos independentes (normalmente retirados da literatura publicada) e que sintetizam resumos e conclusões, que podem ser usados para avaliar a eficiência de terapias, planejar novos estudos, etc. É frequentemente uma revisão de ensaios clínicos. Geralmente é chamado de metanálise pelo autor ou patrocinador e deve ser diferenciado das revisões da literatura.
A indexação
Um dos grandes desafios no momento da indexação consiste em se certificar que o termo usado pelo autor coincide com o conceito presente no DeCS/MeSH e na literatura. Somente aplicar o descritor se há coincidência com a definição e observar os pontos a seguir:
- Verifique a presença dos termos revisão sistemática ou metanálise no título e/ou resumo. Sua menção é recomendada em protocolos de estudo como o PRISMA.
- Verifique se há uma pergunta clínica específica com o detalhamento do processo de análise demandado pelas revisões sistemáticas.
- Verifique se há menção ao registro PRÓSPERO
- Verifique se há menção ao protocolo de delineamento do estudo como Cochrane, PRISMA ou QUORUM. Se o documento apresenta a maioria desses requisitos, indexe REVISÃO SISTEMÁTICA [Tipo de publicação]
- Verifique a existência do gráfico em floresta que identifica uma metanálise. E se identificado, indexe METANÁLISE [Tipo de publicação]
É comum o uso de REVISÃO SISTEMÁTICA [Tipo de publicação] e sem METANÁLISE [Tipo de publicação], porém não é comum a indexação de METANÁLISE [Tipo de publicação] sem a coordenação com REVISÃO SISTEMÁTICA [Tipo de publicação]. Ex. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8245290/
- Quando possível a identificação dos tipos de estudos que foram a base para a revisão sistemática considerar fazer a coordenação com o descritor como secundário.
- A indexação de Revisões sistemáticas de estudos observacionais se dá coordenando REVISÃO SISTEMÁTICA [Tipo de publicação] com ESTUDOS OBSERVACIONAIS COMO ASSUNTO [Descritor].
- A indexação de Revisões sistemáticas de ensaios clínicos controlados aleatórios se dá coordenando REVISÃO SISTEMÁTICA [Tipo de publicação] com ENSAIOS CLÍNICOS CONTROLADOS ALEATÓRIOS COMO ASSUNTO [Descritor].
- Trabalhos sobre aspectos, projetos, metodologias de revisões sistemáticas e metanálises use REVISÕES SISTEMÁTICAS COMO ASSUNTO [Descritor] e METANÁLISE COMO ASSUNTO [Descritor].]
- Para estudos sobre protocolos de revisão sistemática indexar REVISÕES SISTEMÁTICAS COMO ASSUNTO [Descritor].
Descritores relacionados
ABORDAGEM GRADE [Descritor]
Abordagem comum, sensível, transparente e estruturada à classificação da qualidade da evidência (ou certeza) e à força das recomendações desenvolvidas pelo grupo de trabalho denominado Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation, cujo acrônimo é GRADE em inglês.
Pode ser usado na indexação quando na discussão da classificação de níveis de evidência for utilizada a abordagem GRADE.
Ex. http://rcfba.fcfar.unesp.br/index.php/ojs/article/view/758/681
ENSAIOS CLÍNICOS CONTROLADOS COMO ASSUNTO [Descritor]
Trabalhos sobre estudos pré-planejados sobre segurança, eficácia, ou esquema de dosagem ótima (se apropriado) de uma ou mais drogas diagnósticas, terapêuticas, ou profiláticas, dispositivos, ou técnicas selecionadas de acordo com critérios pré-determinados de elegibilidade e observadas para evidência pré-definida de efeitos favoráveis ou desfavoráveis.
Pode ser usado coordenado como descritor secundário no caso da revisão sistemática utilizar esse tipo de estudo no conjunto de análise.
Ex. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8141166/
ENSAIOS CLÍNICOS CONTROLADOS ALEATÓRIOS COMO ASSUNTO [Descritor]
Trabalhos sobre ensaios clínicos que envolvem pelo menos um tratamento teste e um tratamento controle, com matrícula simultânea e acompanhamento de grupos testes e de tratamento controle, e nos quais os tratamentos a serem administrados são selecionados por um processo randômico, como o uso de uma tabela de números randômicos.
Pode ser usado coordenado como descritor secundário no caso de revisão sistemática utilizar esse tipo de estudo no conjunto de análise.
Ex. http://rasp.msal.gov.ar/rasp/articulos/vol13supl/Rev_Tortosae28.pdf
ESTUDOS OBSERVACIONAIS COMO ASSUNTO [Descritor]
Trabalhos sobre estudos clínicos em que os participantes podem receber intervenções diagnósticas, terapêuticas ou de outros tipos, mas o pesquisado não atribui voluntários para intervenções específicas (como em um estudo intervencional).
Pode ser usado coordenado como descritor secundário no caso de revisão sistemática utilizar esse tipo de estudo no conjunto de análise.
Ex. https://docs.bvsalud.org/biblioref/2021/09/1291308/6520-article text-37930-2-10-20210914.pdf
ESTUDOS TRANSVERSAIS [Descritor]
Estudos epidemiológicos que avaliam a relação entre doenças, agravos ou características relacionadas à saúde, e outras variáveis de interesse, a partir de dados coletados simultaneamente em uma população.
Pode ser usado coordenado como descritor secundário no caso de revisão sistemática utilizar esse tipo de estudo no conjunto de análise. Ex.
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/scientiamedica/article/view/38883/26693
ESTUDOS DE CASOS E CONTROLES [Descritor]
Comparações que começam com a identificação de pessoas com a doença ou desfecho de interesse e um grupo controle (comparação, referência) sem a doença ou desfecho de interesse. A relação de um atributo é examinada pela comparação de ambos os grupos com relação à frequência ou níveis de desfecho ao longo do tempo.
Pode ser usado coordenado como descritor secundário no caso de revisão sistemática utilizar esse tipo de estudo no conjunto de análise. Ex.
http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1851-37432020000200036
ESTUDOS DE COORTES [Descritor]
Estudos em que os subconjuntos de uma certa população são identificados. Estes grupos podem ou não ser expostos a fatores hipotéticos para influenciar a probabilidade da ocorrência de determinada doença ou outros desfechos. Coortes são populações definidas que, como um todo, são seguidos de uma tentativa de determinar as características que distinguem os subgrupos.
Pode ser usado coordenado como descritor secundário no caso de revisão sistemática utilizar esse tipo de estudo no conjunto de análise. Ex. https://doi.org/10.1590/S1677-5538.IBJU.2020.0333
Coordenações improváveis
ENSAIO CLÍNICO CONTROLADO ALEATÓRIO [Tipo de publicação]
ESTUDOS OBSERVACIONAIS [Tipo de publicação]
ESTUDO COMPARATIVO [Tipo de publicação]
GUIA DE PRÁTICA CLÍNICA [Tipo de publicação]
Exemplo de indexação de documento
Tortosa F, Izcovich A, Carrasco G, Varone G, Haluska P, Sanguine V. Oxígeno con cánula de alto flujo para el tratamiento de la bronquiolitis aguda del lactante: revisión sistemática y metanálisis. Medwave. 2021;21(04):e8190
https://www.medwave.cl/link.cgi/Medwave/Estudios/RevSistematicas/8190.act
Referências
1 – Sackett DL, Rosenberg WM, Gray JA, Haynes RB, Richardson WS. Evidence based medicine: what it is and what it isn’t. BMJ. 1996;312(7023):71-2. https://doi.org/10.1136/bmj.312.7023.71
2 – Murad MH, Asi N, Alsawas M, Alahdab F. New evidence pyramid. Evid Based Med. 2016;21(4):125-7. http://dx.doi.org/10.1136/ebmed-2016-110401
3 – Honório HM, Santiago JF Jr. Fundamentos das revisões sistemáticas em odontologia. São Paulo: Quintessence Editora; 2018. 361 p.
4 – Patolo S, editor. Principles and practice of systematic reviews and meta-analysis. Gewerbestrasse: Springer; 2021. 188 p.
5- Prasad K. Fundamentals of evidence based medicine. New Delhi: Springer; 2014. Chapter 10, Systematic review and meta-analysis: fundamental concepts; p. 109-21. DOI:10.1007/978-81-322-0831-0_10
6-GRADE Series. J Clin Epidemiol. 2020 [cited 2021 Nov 20]. Available from: Journal of Clinical Epidemiology (jclinepi.com)
7- Grant MJ, Booth A. A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Info Libr J. 2009;26(2):91-108. doi: 10.1111/j.1471-1842.2009.00848.x
8 – BIREME. Biblioteca Virtual em Saúde. Manual de Indexação de Documentos para a Base de Dados LILACS (2021) [Internet]. São Paulo: BIREME; 2021 [cited 2021 June 8]. Available from: https://lilacs.bvsalud.org/metodologia-lilacs/manual-de-indexacao-de-documentos-para-a%20base-de-dados-lilacs/
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.